Era Natal

Eu contava os dias para ele chegar. Brilhante, o Natal sempre teve cheiro de canela e clima de final de Copa.  E pra mim, ele era arrumar a árvore lambendo colher de brigadeiro enquanto via o “Natal do Zé Colmeia”. Não jogar mais futebol na sala porque o “gol” – a vidraça da varanda – tinha sido tampada. Escrever cartas melosas para o Papai Noel, em que os maiores desejos eram um campo de futebol de botão e fitas de Nintendo 64. Natal de sol, praia e férias de verão. Ele era as tábuas corridas que levavam aos embrulhos debaixo do pinheiro enfeitado. Natal era abrir os presentes na véspera da véspera com a mamãe, em segredo. Era a rabanada da Leila e a tarde de comer os biscoitos de limão que minha irmã gostava de fazer. Natal com beijo de boa noite nos meus pais, indo dormir com o cachorro de pelúcia novo. Natal era se encantar com o pisca pisca da árvore gigante que flutuava na porta de casa. Até que Natal virou “Natal com a mãe” e “Natal com o pai”. Não gostar mais de ganhar carrinho. Passar a ceia trocando mensagens de texto, depois BBMs, depois WhatsApps. Ir dormir contrariado porque não me deixaram ir à boate com identidade falsa. Natal virou não estar mais de férias. Ter que migrar de casa em casa e não encontrar táxi. Mise en scene familiar. Se estressar com os shoppings lotados e os presentes dos amigos ocultos. Não ganhar mais presente da avó. Ter uma porção de agregados na ceia – e nem ter mais comida de ceia. O Natal desvirou Natal. Ele tem outro nome:

vintage christmas

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