Em pequena, achava que o jornal escondendo rosto de papai no café trazia as notícias do dia recém-nascido. Jornalistas; oráculos do nosso tempo, cartomantes que não falavam de amor. Eu os invejava porque conheciam o dia seguinte – talvez por isso tenha seguido a profissão. Também queria saber do tempo e da vida. E que meu pai não tirasse os olhos de mim pela manhã.
Quando descobri que o jornal não era a previsão do dia seguinte, e sim a resenha do anterior, o estômago embrulhou como quando se descobre a mentira da melhor amiga – nunca gostei de ser enganada. Jornalistas não sabiam de nada, pensei. Nem escrevem nada sobre o amor. Que pretensão, a de cobrir o cotidiano sem ao menos esbarrar no tema. O que eu ia fazer da vida agora?
Se ele era tão importante à vida das pessoas, por que não constava nas páginas? Mesmo as profissões que poderiam se ocupar do amor estudavam o que acontece quando ele falta ou é deficiente: ódio, guerra e crime parecem ser assuntos de predileção. E se houvesse amor?
Comida nutre o corpo, mas amor enche a alma.
Acho que vou virar poeta. E torcer para papai gostar dos meus versinhos.